Querem recolonizar<br>a América Latina
O ex-sacerdote e teólogo brasileiro Leonardo Boff advertiu que existe «um projecto de recolonizar a América Latina», pelos Estados Unidos, que «querem controlar o continente».
A ideia-chave do Pentágono é um só mundo, um só império
Há um projecto dos Estados Unidos para recolonizar a América Latina e fazer dela cada vez mais uma zona que exporte mercadorias e não acrescente valor aos seus produtos. A América Latina forneceria bens que em outros sítios não existem.
A denúncia foi feita na segunda-feira, 15, pelo brasileiro Leonardo Boff, que foi sacerdote franciscano até 1992 e um dos pregadores da Teologia da Libertação, uma corrente progressista no seio da Igreja Católica.
Para Boff, «a ideia-chave do Pentágono é dupla: por um lado, um só mundo, um só império. Por outro lado, cobrir todos os espaços». O filósofo expressou a sua preocupação a propósito das negociações em curso entre os presidentes Barack Obama e Maurício Macri visando a instalação pelos Estados Unidos de duas bases militares na Argentina, uma na Patagónia e outra na fronteira com o Brasil e o Paraguai, perto do aquífero Guaraní, «um dos maiores aquíferos de água doce do mundo». Recordou que a cooperação militar entre Buenos Aires e Washington foi retomada com Macri, depois de ter estado quase parada durante o mandato da ex-presidente Cristina Kirchner.
O teólogo brasileiro, em declarações ao canal TeleSur, também manifestou a sua inquietação pelo avanço de regimes conservadores na América Latina, preocupação que partilha com o papa Francisco, assegurou.
«Creio que o papa viu que o neoliberalismo, que dá mais valor ao mercado do que ao bem comum, produz uma grande marginalização e uma grande pobreza. Os 40 milhões de pessoas que foram retiradas da fome no Brasil começam a regressar à sua condição original», avisou Boff.
Golpe contra a Venezuela
Os Estados Unidos estão a promover reuniões secretas entre diplomatas da Organização dos Estados Americanos (OEA) para tratar de derrubar o governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
A denúncia foi feita por Roy Chaderton, antigo embaixador e ministro dos Negócios Estrangeiros (2002-2004) venezuelano. Denunciou o embaixador do México em Caracas, Luís Alfonso de Alba, como um dos principais responsáveis do plano e organizador das reuniões, «emprestando a sua embaixada e a sua pessoa» para as mesmas.
«Para minha surpresa, com as coisas horríveis que se passam no México, o seu embaixador na OEA está completamente envolvido nesse plano, fazendo força para derrubar a Venezuela por controlo remoto», declarou o ex-ministro numa entrevista ao jornalista Francisco Solórzano, transmitida pelo canal televisivo ANTV, do parlamento venezuelano. Assegurou também que o México pôs à disposição do Departamento de Estado norte-americano a sua embaixada em Caracas para a realização dos encontros clandestinos.
Chaderton reiterou a sua estranheza perante a conduta do diplomata mexicano, já que «o México só recebeu amor e admiração por parte da Venezuela, assim como um imenso respeito». E foi mais longe: «Não se entende como pode o México ter um dos seus diplomatas com uma atitude tão agressiva, além disso em conluio com o império que lhe roubou parte do seu território em 1846 e que o invadiu em 1913».
Note-se que, em Maio passado, a oposição venezuelana, também conivente com a ingerência imperialista no país, pediu ao secretário-geral da OEA a activação da Carta Democrática Interamericana, invocando «a urgência de fazer uma abordagem regional à crise da Venezuela».